Em 2012 publiquei minha teoria sobre o principal
responsável pelo que vem acontecendo na Ponta da Praia e fiz um post
complementar em 2013.
Recomendo fortemente a quem estiver realmente
interessado e com disposição para entender, que visite e leia atentamente os
posts:
Em resumo, apesar de não ser oceanógrafo, tampouco
catedrático em matérias específicas relacionadas a esse fenômeno, me julgo com inteligência e experiência
suficientes para pelo menos exercer o direito de opinar a respeito.
Inteligência...
Uma pequena definição obtida
da Wikipédia: Inteligência tem sido definida popularmente e ao longo da
história de muitas formas diferentes, tal como em termos da capacidade de
alguém/algo para lógica, abstração, memorização, compreensão,
autoconhecimento, comunicação, aprendizado, controle emocional, planejamento e
resolução de problemas.
(Modéstia à parte, me considero
um ser inteligente.)
Experiência...
Bom.... aí são mais de 50
anos em contato com estas praias, mar, areia e suas constantes modificações.
Atravessando o canal do
porto a nado, mesmo sem saber nadar (pelo menos não tecnicamente) junto com meu
irmão Alfredo (Editor deste Blog), depois aprendendo a surfar junto com a
galera da época de Lequinho, Almir, Cisco e muitos outros.
Muitos anos depois, sempre
continuando a surfar, voltei a praticar a natação mais voltada para o Biathlon e
depois Triathlon, sendo que o local mais propício é justamente a Ponta da
Praia.
Além disso, existe a parte
futebolística.
Joguei bola em tudo que é
lugar possível aqui na Baixada. Na rua (onde a cada jogo era um tampão de dedão
que ia embora), nos campos de várzea que hoje são o BNH da Aparecida. Os campos
de São Vicente, Morro da Nova Cintra, Jabaquara, Humaitá (era uma viagem), etc.
E joguei muito mais pelas
praias de Santos. Todas.
E corridas ? Nunca parei
para fazer contas, mas creio já ter corrido somente pelas areias das praias de
Santos e São Vicente (entre a Ponta da Praia e a Ilha Porchat) alguns milhares
de quilômetros.
Bom... se isso não for um
pouco de experiência, não sei o que mais pode ser considerado, até porque,
sempre fui observador.
O emissário submarino e o quebra-mar
Na década de 70, nossas
praias ficaram lindas. Pareciam as praias do Nordeste com suas dunas de areia.
Eram os trabalhos sendo feitos para a implantação da rede de esgoto que tornou
nossa cidade uma das melhores, senão a melhor, do Brasil nesse quesito.
Esquadrinharam a cidade toda
(pelo menos na parte nobre) colocando as tubulações de esgoto, retirando as
ligações clandestinas que jogavam esses esgotos nos canais.
Na orla da praia, pela
areia, na parte mais próxima aos jardins, foram colocadas tubulações que
recolhem até hoje esses esgotos e os levam à estação de tratamento, de onde são
jogados, já devidamente tratados, a alguns kms de distância da costa, através
do Emissário Submarino, um conjunto de outras tubulações feitas com essa
finalidade.
Se falhei ou se fui
simplista nesta explicação, peço que me perdoem e me corrijam.
Para a construção e
implementação desse Emissário, foi construída uma plataforma, quebra-mar, ao
lado da Ilha de Urubuqueçaba.
Penso que o ideal para esse
tipo de intervenção é que se construam piers. A diferença é que um quebra-mar é
uma obra que afeta os fluxos de marés.
Por outro lado, um píer, por
ser suspenso, não acarreta essa influência.
Porém, não sou engenheiro
(embora meu irmão seja) e não vou discutir a necessidade de ter sido feito um
quebra-mar em vez de um píer.
Efeitos...
Para nós, surfistas, na época,
foi uma dádiva.
Criaram-se canais, bancos de
areia e tudo o mais que faz com que até hoje ali quebrem ondas muitas vezes
perfeitas. Embora eu, particularmente, continue preferindo surfar nas ondas da
Divisa (entre Santos e São Vicente), mas por outros motivos.
Só que esse quebra-mar
deveria ser retirado assim que as obras fossem concluídas e, não sei porque
raios não o foi.
O fato é que hoje é
impensável retirá-lo.
Já falei algumas vezes que
ele se tornou parte da geografia de Santos, como se ali houvesse nascido
concomitantemente com a Ilha de São Vicente.
Por falar em ilha, a Ilha de
Urubuqueçaba está deixando de ser ilha, tá?
O fato concreto é que o quebra-mar
impede os fluxos normais de marés enchentes e vazantes. E ninguém conseguirá me
desmentir sem um debate.
Maré vazante
Sai do canal do porto e vem
retirando areia e sedimentos em direção a São Vicente. Como sai com mais força
de um canal (do porto) retira mais areia e sedimentos de lá. Ao longo do seu
trajeto vai depositando isso do Gonzaga em diante. Até porque a areia de Santos
é muito leve, fazendo inclusive com que as águas do mar sejam constantemente
confundidas com poluídas, devido essa areia toda em suspensão.
Maré enchente
(sem quebra-mar)
Começa a retirar areia e
sedimentos desde São Vicente e ao chegar perto do funil (canal do porto) vai
recolocando tudo em seu devido lugar.
Maré enchente
(com quebra-mar)
Começa a retirar areia e
sedimentos desde São Vicente e, ao chegar na Ilha de Urubuqueçaba e ao quebra-mar,
encontra uma barreira. Logo, boa parte da areia e sedimentos ficarão por ali
mesmo, sendo que o restante dará a volta por trás da Ilha.
A falta de correnteza no
sentido quebra-mar - Ponta da Praia, do Canal 1 até o Gonzaga, pelo menos,
impede a retirada de areia e sedimentos (que foram depositados ali na vazante),
correnteza essa que - se existisse - os levaria de volta e os depositaria em
seu lugar de origem.
Eu pratico surf ali.
Por exemplo, em frente ao
Posto 2, na maré vazante, a correnteza nos joga para o Canal 1 e o quebra-mar.
Na maré enchente, ficamos praticamente no mesmo lugar.
Porra!!!
Óbvio que o quebra-mar
interrompe esses fluxos naturais.
A maré enchente passa por
fora e não tem força, junto à beira-mar, para realizar seu trabalho natural.
Tentativas inócuas
Quando digo que estamos
enxugando gelo, não estou brincando.
Ainda há poucos dias, vi uma
entrevista com algum responsável pelas tentativas de desassoreamento dos canais
3, 2 e 1... e ele falou a mesma coisa.
E olha.... trabalham pra car...!!!
Mas é um trabalho inócuo.
Tratores, escavadeiras,
caminhões basculantes, operários e muito mais, empenhados em retirar areia dos
locais assoreados e recolocar na Ponta da Praia. E até mesmo em locais mais
próximos do Canal 4.
Vejam o custo disso.
E o resultado? Zero vezes
zero.
Ah... mas é como prestar uma
satisfação ao povo.
Mais observações
Não sou cego.
Vejo e sei o quanto as
outras intervenções humanas estão afetando o planeta.
Sei do aumento do nível dos
oceanos.
Ressacas como essas que
ocorreram recentemente são fenômenos.
Mas, uma coisa é uma coisa e
outra coisa é outra coisa.
Nesta semana, fui treinar e
nadei.
Entrei no Canal 6, bem ao
lado da mureta, e contornei o "Pirulitinho" à direita e mirei no
Canal 5, onde saí do mar.
Nunca vi o mar tão profundo
e limpo.
Não havia quase areia em
suspensão.
Não digo que a água
estivesse como no Caribe, mas estava transparente (bem...amarela) como nunca.
Isso significa que não
existe praticamente areia leve, em suspensão, naquela região.
No início me empolguei.... mas
depois, nadando, estamos acostumados (eu estou) a inventar estratégias para
completar o treino. Na piscina ficamos contando ladrilhos. No mar ficamos
prestando atenção em outras coisas.
E percebi que aquela imagem
de água muito menos turva era enganosa.
O fundo do mar não tem mais
sequer a areia natural. O que restou é uma areia pesada, densa que sequer
flutua.
Voltando aos trabalhos do
poder público...
Onde acham que vão chegar,
retirando areia e sedimentos da faixa seca e levando de volta para o local
desassoreado???
Aprendi que, para achar a
solução de um problema, temos que identificar a causa-raiz.
E, neste caso, a causa-raiz são
a areia e os sedimentos retirados de dentro do mar.
Vão recolocar isso dentro do
mar? Como ?
Simples... deixando a
natureza voltar a fazer o seu papel.
Não me pergunte como.
Bom... se quiser, pergunte.
Possível solução simples
Não. Minha opção não seria
retirar o quebra-mar que, como eu disse, já é parte da geografia de Santos.
Mas, talvez, abrir passagens
entre um lado e outro do dito cujo, de forma que o mar iniciasse o seu
trabalho.
Penso que teria um custo
ínfimo em relação aos trabalhos atuais.
Já ouvi que a responsabilidade é da Dragagem do
Porto.
Contestei. Se alguém quiser saber o porque, me
pergunte.
Também já ouvi, em uma entrevista no Jornal da
Tribuna, uma repórter entrevistando uma oceanógrafa que endossou o que falei com
relação à maré vazante. E parou por aí.
Ela, a repórter, perdeu uma grande oportunidade de
perguntar por que o mar não faz o seu trabalho durante a maré enchente.
Também já ouvi muitos falarem que o mar está
retomando o seu lugar, que Santos era um alagado, etc.
Por esse raciocínio, o Marapé, cujo nome não
precisa de interpretação, não estaria a uma distância do mar maior do que já
esteve.
Poderia e pretendo postar várias imagens a respeito
do que falo, mas sugiro que pesquisem nos sites de busca e comparem como era e
como está a nossa Ponta da Praia.
Pior é imaginar como ficará, se ações concretas não
forem realizadas.
3AV
Marco Cyrino