sábado, 1 de agosto de 2020

Ponta da Praia em extinção - Parte IV


Pequeno histórico

Em 2012, publiquei "minha teoria" sobre o principal responsável pelo que vem acontecendo na Ponta da Praia.

Fiz um post complementar em 2013 e outro no final de 2016.

Para o bom entendimento deste novo texto, recomendo fortemente, aos que estiverem realmente interessados, uma leitura bem atenta dos posts anteriores, nos quais tudo já foi detalhado:





No momento, não vou me estender sobre a "minha a teoria" a respeito dessa causa principal, mas, ao final deste post, quero abordar uma causa contribuinte para o problema, já mencionada inclusive em comentários aos posts anteriores: a Dragagem do Porto de Santos.



Objetivo deste post

Acabo de concluir mais uma empreitada fotográfica ao longo de toda a orla, com o objetivo principal fazer, através de imagens, uma análise comparativa da evolução do problema em relação ao ano de 2012.


Eventuais soluções

Com relação às eventuais soluções (também já sugeridas e descritas anteriormente), me ocorreram duas outras idéias:

1ª) Considerando o estado avançado do problema e considerando também que parece haver uma modificação radical no tipo de areia presente na Ponta da Praia (chegando a um ponto em que já se notam pedriscos e areia mais grossa), talvez esteja próximo o momento em que não haverá mais areia a ser retirada pelas marés vazantes.

Como não conheço o subsolo da região, vou parar por aqui.


2ª) Talvez, construindo um outro quebra-mar na Ponta da Praia, o efeito de retirada contínua de areia naquela região pudesse ser interrompido.

Conforme sugerido e indicado nas próximas duas imagens de 2012 (tomadas do meu primeiro post sobre este assunto), essa intervenção teria de ser algo com dimensionamento e posicionamento minuciosamente estudados para não interferir com a navegação de acesso ao porto e, ao mesmo tempo, produzir um efeito similar (e oposto) àquele causado pelo Emissário Submarino, numa tentativa de contrabalancear este último.
(V. marcações em azul turquesa, nas 2 fotos...)

Maré vazando

Maré enchendo


Análise comparativa

Considerações sobre as imagens recentes:

- As fotos foram feitas em 28/07/2020, num horário de maré bem baixa, para que não houvesse distorção entre o que observo e a realidade.

- Tivemos recentemente duas ressacas, as quais normalmente assoreiam os canais. Porém isso ocorreu há mais de 15 dias, portanto, com tempo suficiente para que já houvesse sido retirada uma quantidade considerável de areia dos locais mais afetados.

- A seqüência de apresentação das imagens começa pelo Canal 1, indo em direção à Ponta da Praia.


(Clique em qualquer imagem para ver em tamanho maior e use "Esc" para retornar ao texto do post.)


Canal 1

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 1, assoreada, desaparecendo


Situação em julho.2020

Canal 1 

Canal 1


Canal 2

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 2, assoreada, soterrada pela areia.
Areia também dentro do canal.


Situação em julho.2020

Canal 2 

Canal 2 

Canal 2 

Canal 2 

Canal 2

Canal 3

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 3, assoreada, em nível com a areia.


Situação em julho.2020

Canal 3

Canal 3 

Canal 3

Canal 3 

Canal 3


Canal 4

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 4, normal, acima da areia.

Situação em julho.2020

Canal 4

Canal 4 

Canal 4 

Canal 4


Canal 5

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 5 (ao fundo), normal, acima da areia.

Situação em julho.2020

Canal 5

Canal 5

Canal 5

Canal 5


Operação enxugar gelo

As dunas de Santos.

As dunas.

Operação Enxugar gelo.

Operação Enxugar gelo.

Entre os Canais 5 e 6.

Entre os Canais 5 e 6, com o caminhão descarregando areia.

Operação enxugar gelo, em seu ápice.

O farol na ponta da praia.

As muretas da Ponta da Praia, já quase no Canal 6.


Canal 6

Situação em novembro.2012

Mureta do canal 6, normal, acima da areia.

Situação em julho.2020

Ponte sobre o Canal 6.

Ponte sobre o Canal 6.

Ponte sobre o Canal 6...
O degrau está na altura do meu joelho.

Foto do outro lado do Canal 6.
De um lado, o mar na ponte.
Do outro lado, o mar recolhido.
Efeito quebra-mar...


Caminhando...

Chegando próximo ao Aquário.


A Ponta da Praia

Situação em novembro.2012

Ponta da Praia - desnível entre areia e calçada - em frente ao Aquário.

Situação em julho.2020

Agora muito próximo... vejam a altura das muretas.

Rampa de acesso à praia

Um mini-quebra-mar...
A natureza insiste. Basta olhar a garça.

A rampa, já depois de muitos anos, também deteriorada. 
Notem que aqui havia uma escada, que virou uma rampa, que agora está virando coisa nenhuma.



Mais (menos) Ponta da Praia

Situação em novembro.2012

Ponta da Praia - desnível entre areia e calçada - em frente à Rua Prof. Afonso Celso de Paula Lima.

Situação em julho.2020

Essa era uma praia. Praia mesmo, com muita areia.

Foto do mesmo ângulo da postagem anterior.
Já com água nos pés, mesmo com a maré super baixa.


Voltando à origem do problema...

Ele, o trambolho...


Dois momentos na vida do Emissário

Não foi possível obter fotos atuais de ambos os lados do Emissário Submarino, para comparar com aquelas que publiquei no post de 2012, pois o acesso ao mesmo está interditado.

Assim, para fundamentar mais um pouco aquilo que tenho comentado nestes 4 posts, apresento duas imagens bastante distanciadas no tempo, obtidas através do software Google Earth, evidenciando a acreção (acúmulo) de areia à esquerda do Emissário e a erosão à direita (sendo esta um tanto minimizada pela areia que a maré vazante traz da Ponta da Praia).

As datas das imagens foram escolhidas por apresentarem marés baixas relativamente similares.
  
Situação em 29.06.2010


Situação em 04.06.2020



Uma possível consequência...
Comprometimento da função dos Canais de Santos

Estivesse vivo, o Engenheiro Saturnino de Brito (Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, Patrono da Engenharia Sanitária Brasileira) ficaria triste ao ver que o seu projeto de saneamento e drenagem, elaborado e implementado em Santos (lá pelos idos de 1900 - 1910), tem agora a sua parte de drenagem comprometida.

Vejamos...

Projeto de saneamento - OK

Inclui canais subterrâneos para captação de esgotos de toda a cidade (são os canais do Orquidário, da R. Moura Ribeiro, da R. Jovino de Melo, da R. Francisco Manoel e da R. Brás Cubas, no Centro).
Anteriormente, os rejeitos convergiam para a tubulação (atualmente inativa) existente na Ponte Pênsil e eram lançados ao mar in natura.

Atualmente, os rejeitos são conduzidos para a estação de tratamento de esgotos subterrânea, próxima ao Orquidário, sendo (depois de tratados) lançados em alto mar através do Emissário Submarino, equipamento este inaugurado em 1978, tendo o seu duto implantado a 12 metros de profundidade. 

Projeto de drenagem - Problema

Inclui os 7 canais a céu aberto, que todos conhecemos, construídos basicamente para captar águas pluviais e conduzi-las para as praias, além de funções de drenagem do solo, as quais não pretendemos aqui detalhar tecnicamente.

Será que os canais 1, 2 e 3, assoreados como estão, ainda cumprem corretamente as suas funções?



Dragagem do Porto de Santos

Conforme mencionei no início deste post, quero apresentar alguns comentários sobre este tema.

Sem entrar em maiores detalhes técnicos, devemos considerar que a dragagem do canal, do estuário e dos berços de atracação do Porto de Santos, embora indispensável para manter o funcionamento do Porto e a sua competitividade internacional, contribui, sim, para o agravamento dos efeitos descritos nos meus posts anteriores.

A dragagem foi e é necessária, não apenas para aprofundar os leitos do canal do estuário e berços de atracação, para permitir o trânsito de embarcações de maior calado (profundidade atingida pelo casco, abaixo da linha d'água), mas também para manter essa profundidade, uma vez que todos os rios da região deságuam no estuário, trazendo mensalmente cerca de 6,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos (basicamente, lama) que precisam ser retirados e levados para a área de descarte (fora da Baía de Santos) denominada PDO - Polígono de Disposição Oceânica.

Os projetos para aprofundamento de todos esses leitos foram concebidos e implementados entre o final dos anos 70 e início dos anos 80, período praticamente coincidente com a implantação do Emissário Submarino em 1978.

Pois bem, mapas cartográficos do século XIX mostram que a profundidade do canal da barra de Santos era de 6 a 8 metros.

Atualmente, a profundidade do canal, das áreas de manobras e dos berços de atracação é da ordem de 15 metros.

Então, quero apenas chamar a atenção para o fato de que, com o aprofundamento desses leitos e o alargamento (abaixo da linha d'água) do canal do estuário, temos um maior volume de água enchendo o estuário quando a maré sobe, e um maior volume saindo do estuário durante a maré vazante, o que acentua os efeitos das correntes marítimas locais que ilustrei em meus posts anteriores.

Para quem quiser estudar e pesquisar mais o assunto:







Por enquanto, é isto!

3AV
Marco Cyrino