sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ironman 2009 - Etapa Florianópolis - 31.05.2009

Decidindo me tornar Ironman

Depois de alguns anos competindo em vários Triathlons na Distância Olímpica (1,5 / 40 / 10 km) e outros Long Distance ou Meio Ironman ou, ainda, 70.3 (1,9 / 90 / 21 km), resolvi finalmente "arriscar" fazer meu primeiro Ironman.

Minhas performances em provas de Long Distance me faziam crer que conseguiria. Afinal, completei em aproximadamente 7h30m o primeiro Long distance que fiz, em Pirassununga.
Depois, consegui ir diminuindo o tempo, até chegar em 5h47m.

Evidentemente, tinha consciência de que Ironman é totalmente diferente.
Não basta simplesmente fazer a conta do tempo de um Long Distance multiplicado por 2.

Incentivado por meu camarada Fernando Rocha, que me disse que os treinos para o Ironman não eram muito diferentes dos treinos para Long Distance, me inscrevi.

Descobri que o Fernando é mentiroso... rsrsrs

Já havia uma galera de amigos incentivando para que eu fizesse: Cláudio Miler, Cleber Celino, Thiago, Romeu, entre outros.

Objetivos iniciais
Pretendia fazer apenas um Ironman, mas hoje estou caminhando para o meu quarto Ironman.

Meus únicos objetivos eram: completar dentro do tempo máximo (17h), e não passar mal, como já vi ocorrer com vários participantes.

Claro que, no fundo, tinha a expectativa de fazer um tempo razoável e não chegar em cima da marca de 17h.

Treinos
Minhas maiores dificuldades seriam o tempo a dedicar aos treinos, e aprender a me alimentar e hidratar durante os mesmos.

Bom, treinei boa parte dos longos de bike, acompanhado pelo Fernando, Romeu (temos a mesma assessoria, grande mestre Ivan Yague), Thiago e mais alguns atletas.

Minha única certeza, ao final dos treinos longos, era a de que não conseguiria sequer completar o Ironman.
Hoje, vejo que errava muito (ainda erro, mas menos) na alimentação e na hidratação.

A caminho e chegando lá
Viagem marcada, treinos realizados, período de polimento cumprido, vamos para Floripa.

Chegando lá, depois da cansativa viagem, uma ótima surpresa: a qualidade da Pousada dos Chás em Jurerê. Excelente, 10 estrelas. 

Além disto, vários amigos ficaram hospedados lá: Cleber, Thiago, Marcelo Ruas, etc.

Segunda surpresa: a Ilha (mais especificamente Jurerê) respira Ironman.

Tudo, tudo mesmo, gira em torno do evento --- centenas de atletas circulando, restaurantes com cardápio específico, etc.

E a Cidade Ironman, em Jurerê Internacional?
Realmente é uma cidade.
O clima do evento é contagiante inclusive para quem não vai fazer a prova.
A Neuza (grande companheira) que o diga.

Preparativos
Quinta-feira
Retirar o kit, conhecer o lugar, e ficar com frio na barriga.

Sexta-feira
Descansar, comer bem, continuar conhecendo o lugar, e aumentar o frio na barriga.

Sábado
Está chegando a hora.
Preparar o cardápio para a prova, checar bike e demais itens, fazer o check-in.
Revisar tudo uma, duas, três vezes.
Comer bem. Tentar dormir cedo.
Ah! E o frio na barriga quase insuportável.

Condições climáticas
Por falar em frio, estava muito frio na véspera.
Para ajudar, recebo um torpedo do meu irmão Alfredo que estava em São Paulo:
"Reveja estratégia de prova. Previsão para Floripa - frente fria com ventos fortes; mar com ondas de até 3 metros".

Não me assustei muito, devido ao fato de Jurerê ter um mar protegido das ondulações oceânicas.

Domingão - Dia de prova
Acordei às 4h00m da manhã (incrivelmente, dormi bem) e desci para tomar café.
Depois, uma ida ao banheiro, arrumar as coisas, outra ida ao banheiro, preparar para zarpar, outra ida ao banheiro, e vamos que vamos.

Preparando para largar
Numeração, colocação da alimentação na bike, ida à tenda, colocação da roupa de borracha, a cabeça a mil, e o relógio já marca 6h30m...
Nessas horas o tempo realmente voa.

Vamos em procissão, pela areia da praia, até o local da largada.
Nem entrei no mar para aquecer...
Não estava preocupado com a performance na natação...
É a minha modalidade "menos ruim".
Tinha convicção que essa seria a melhor parte.

Natação - Largada do Ironman
O torpedo que meu irmão passou estava correto, exceto quanto às ondas.
Uma ventania enorme arrastou inclusive as bóias do local demarcado.

Adivinhem quem foi o último atleta a entrar no mar.
Se houver alguma foto aérea da largada, será fácil me acharem.
Exatamente, fui o último a colocar os pés na água.
Pensava: para que pressa?
Tenho o dia inteiro para fazer a prova.
Não vou me estressar com a largada, todos se batendo.
Vou sair atrás de todo mundo, e ainda nadar por fora.

Errei. Descobri que nadava bem melhor do que muitos atletas, mas acabei ficando preso num verdadeiro "cardume humano".
Devido aos ventos, a segunda bóia foi arrastada para alto mar, e nadamos bem mais do que deveríamos.
Primeira etapa cumprida em 1h21m27s.

 T1
Sair do mar, entrar na transição, tirar roupa de borracha, correr até a tenda, pegar sacola, secar, trocar de roupa, pegar capacete, sapatilhas, etc.
Como demorei!
Bom, não havia pressa mesmo. 

Ciclismo
Primeira volta de 90 km... Estradinhas, serrinhas, Avenida Beira-Mar Norte, sentido sul... Até aí tudo bem...

À medida que me aproximava da parte central, o vento aumentava.

Desculpem a nossa falha...
Tentei seguir rigorosamente o plano de alimentação e hidratação que preparei.
Se tivesse de parar para urinar, devido ao excesso de líquidos, ainda assim me sentiria melhor do que se desidratasse.

E foi o que aconteceu.
Na primeira parada, procurei um local mais adequado, parei a bike, encostei-me no quadro, evidentemente de costas para a pista e me aliviei.
Na segunda parada, a mesma coisa.

Na terceira parada (já na segunda volta de 90 km), usei o mesmo método.
Dali a pouco comecei a contar quantos atletas passavam por mim...
Êpa!!! Por que estou vendo atletas passarem por mim?
Percebi que estava de frente para a pista.
Desculpem nossa falha mas, a essa altura, o cérebro já não raciocina tão bem.
Pura distração. 

Uma coisa que vejo atletas fazerem, mas ainda não criei coragem, é urinar pedalando.
Economiza muito tempo, mas deve ser um tanto quanto incômodo, além de politicamente incorreto (pensando nos atletas que venham atrás...).

Bom, de volta ao pedal...
Após o km 130, já não encontrava mais posição para ficar na bike e me sentia um pouco enjoado...
Com certeza, falhei em algo... Mas, vamos que vamos!
Completei o pedal em 7h04m37s.

Corrida
Com toda sinceridade, mesmo faltando 42 km de corrida (e andadas), pensei que seria bem melhor do que os 180 km de pedal.
Outro engano.

Primeira volta longa de 21 km, peguei um ritmo de trote bem leve, tentando fazer o corpo entender que aquilo era corrida e não mais pedal.

Quando estava começando a pegar o jeito, veio uma serrinha...
Seguiram-se outras 3 ou 4...
Caceta! Não eram serrinhas, eram verdadeiras pirambeiras.
Para mim, estava impossível subir correndo...
Então vamos andando, oras. 
Vou descer correndo...
E pra segurar na descida?
Parecia caminhão sem freio.

Engordando...
Parava em todos os postos de abastecimento para beber e comer.
Excelente estrutura. bolachas doces e salgadas, banana, laranja, gel de carboidratos, refrigerantes, isotônicos, bolos, nem lembro mais o quê...
Costumo dizer que devo ter sido o único atleta a engordar durante a prova...

Dores, dores, dores... Remédio versus emoção.
Primeira volta completada.
Faltando ainda mais duas voltas de 10,5 km cada.
Fui me encontrar com meu staff no Special Needs (grande Neuza).
Estava só com uma dorzinha: nos joelhos, nos tornozelos, nos pés, na coluna, no pescoço, nos braços, no cabelo. 

Hora de tomar um Advil...
Ô remédio bendito.
Depois de uns 15 minutos as dores melhoraram muito. 

Difícil saber o quanto o lado psicológico ajuda a deixar de sentir dor, pois, à medida que o final da prova se aproximava, a sensação de força e emoção aumentava.

Onde a gente passa recebe força de quem está vendo a prova.
É uma sensação indescritível.
A frase que eu mais ouvia era: "Força! Você é um Ironman!".

Última volta
Pronto...
Começando a última volta de 10,5 km.
A partir do quinto quilômetro, ficou difícil segurar as lágrimas, pois já estava convicto que iria terminar a prova dentro de meus objetivos.

Chegada - In Memoriam
Em 08/02/2009, dia do Triathlon Internacional de Santos, do qual participei, minha mãe faleceu.
Durante um período, cheguei a desistir de fazer o Ironman, porque, evidentemente, não teria cabeça para treinar.
Então, decidi que na realidade seria mais um motivo para que eu fizesse o Ironman e dedicasse a ela.
Foi o que fiz.

Nos últimos 2 km de prova, retão da chegada, não sabia se corria, se segurava ainda mais o ritmo (que já era "quase parando") para curtir mais aquele momento, ou se chorava.
Enfim, pura realização.

Corri em 5h29m, total da prova 14h10m51s.
O que importa? Importa que concluí. 
Medalha, tenda de alimentação, vários pedaços de pizza, sorvete.
Inesquecível.

Relato longo, mas muito importante para mim.
Minha foto de chegada deveria ter a legenda: "Esta é para a senhora, Mãe".

Resumo, com tempos homologados

Aproximadamente xxxx atletas participantes, sendo xxxx amadores.
Número de peito 221
Etapa
Tempo
Ranking
(50-54 anos)
Natação
Ciclismo + T1
Corrida + T2
01h21m
07h04m
05h29m
23
55
52
Geral
14h10m
52

©2010-2011 - 3athlon na Veia®, Triathlon na Veia®



Um comentário:

  1. Bravo my friend! Como diria aquele comercial "o primeiro a gente nunca esquece".
    Iron eh superacao fisica e psicologica!

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