segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Não faça isto!

Aliás, não faça porra nenhuma.
Assim, você não corre o risco de se machucar.
Mas, já que vai fazer, faça bem feito.
Não faça besteira.

Das cavernas aos super-tênis
Já falei algumas vezes sobre meu passado de “atleta das cavernas”.
Corria descalço, blá, blá, blá...

Agora descobri, a duras penas, que faltou falar sobre algo decorrente da decisão de ser um “atleta moderno”.

Então lá vai:

Depois de ser convencido a correr, não calçado, mas muito bem calçado, joguei fora (doei) o par de tênis que usava eventualmente, e fui procurar um calçado adequado.

O tipo de pisada
Em uma loja especializada em tênis, me perguntaram qual era a minha pisada.

Falei:
- Com o pé, caceta!

O vendedor me disse:

- Eu sei. Quero saber se é supinada, neutra ou pronada.
- Como pro nada ? Está querendo dizer que eu corro pra nada?
- Não. Tô querendo dizer que existem vários tipos de pisadas e... (mais blá, blá, blá).

- Ah...tendí. Só que não sei não.

- Então vamos ali, que temos um equipamento para detectar qual é a sua pisada.

Fui... tirei calçado, meias, subi, pisei e me disseram que minha pisada é supinada.
Piso mais com o lado externo do pé.

É verdade. Sempre notei que meus calçados gastam mais no lado externo, na parte do calcanhar.

E aí?
Qual o tênis indicado?

- Temos este aqui, que tem o melhor amortecimento também. Nike Vomero.

Experimentei.
Caraca! Parece que estamos pisando nas nuvens.
Parece que tem molas.

- Vou levar.

Bom...
Depois de um certo tempo correndo com ele, fui fazer uma transição para o Ironman 2009 e o Ivan (meu técnico) ainda comentou:

- Marcão, esse tênis é muito mole.
Eu:
- E...???
Ele:
- Não acho bom. Gasta logo. Muda a pisada, etc., etc. e tal.

Fiquei meio cabreiro.

Depois de um tempo, mudei para o Asics Nimbus. Uma versão, digamos, mais light do Vomero, mesmo assim com bastante amortecimento e correção da pisada supinada.

Fiz meus 4 Irons com esse tipo de tênis, treinando e fazendo as provas.

Voltando devagar às origens
Com o tempo, fui percebendo que, para as provas do Troféu Brasil (Olímpicas) e até as Long Distances (Pirassununga), corria melhor com um tênis que a Asics nem fabrica mais: o Stratus. Pisada neutra e solado mais baixo, além de ser bem mais leve.

Resolvi ir voltando às minhas origens e começar a usar tênis mais baixos e leves.

Comprei um New Balance Mínimus.
Uso direto nos Olímpicos e me sinto muitíssimo bem, além de voltar à sensação de correr quase descalço.

A besteira
Mas, por medo de lesões, continuei a usar o Nimbus nos treinos.

Só que...
Sempre tem um “só que”...

Pensei em usá-los (os Nimbus) até que ficassem no osso.
Porque ?
Porque os tênis velhos são os mais gostosos de usar. Já conhecem até o tamanho das unhas dos seus pés. Estão perfeitamente moldados à eles.

E comecei a fazer isso justamente na fase em que, além de outros motivos, deixei de me inscrever para o Ironman 2013, visando readquirir um pouco de velocidade, fazendo provas olímpicas e um ou outro Meio-Iron.

Isso implica em treinar de forma diferente, priorizando um pouco mais os treinos de velocidade, tiros, etc.

De repente, começaram a aparecer algumas lesões.
A maioria nos isquiotibiais (posteriores das coxas).
Sei de minha deficiência em alongamento, portanto comecei a caprichar mais neles.
Nada adiantou.

Essas lesões, que tanto eu como meu fisio (Dr. Atef) achávamos que fossem contraturas, além de decorrentes de alguns outros fatores, foram se sucedendo.

Ele, corretamente, me solicitou uma ressonância magnética.  
Ressonância feita, resultado:


- Porra!
Bursite no tendão dos ísquios?
Bursite no iliopsoas?
Estiramento no oblíquo externo?
Como? Por quê? Quando? Onde?
POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ?

Os porquês
Bom... embora pareça impossível, sou formado em Educação Física. Pode parecer impossível porque tenho, diria, muito conhecimento a respeito de várias coisas que insisto em fazer de forma errada, ou pelo menos não pensando nas conseqüências daquilo que estou fazendo.

Então, busquei lá no fundo da mente os conhecimentos de anatomia obtidos na Fefis (embora depois achasse que teria sido mais prático dar algumas Googladas), para identificar a localização dessas lesões.

A bursite dos isquiotibiais é na parte posterior da coxa, perto da parte de trás do joelho (a famosa “barriga da perna”).

A bursite do iliopsoas é naquele músculo que se vê em forma de triângulo, na frente do abdômen em direção à virilha (isso de quem tem “tanquinho”).

E o estiramento no oblíquo externo é no músculo lateral do abdômen, que começa mais ou menos na última costela das costas e termina na parte da frente do abdômen.

Isso significa que, apesar de sentir dor apenas na parte posterior da coxa, na verdade as lesões foram se estendendo.

Nosso diagnóstico (do Dr. Atef e meu) é o seguinte:

Utilização de tênis, para correção de pisada supinada, já totalmente inutilizado para esse fim, acarretando, em vez de uma correção, uma acentuação dessa pisada.

Assim, à medida que o tênis foi se tornando muito velho e gasto, o amortecimento na região em que era necessário foi sendo massacrado, além do gasto normal daquela parte do solado.







É importante dizer que as fotos não representam a realidade do tênis após no máximo 1km de uso.

Esses tênis com muito amortecimento e ainda para correção de pisada têm uma vida útil muito curta.
Dizem que algo em torno de 400 a 500 km.

As fotos os mostram depois de muito tempo sem utilização.
Assim, o amortecimento deles já voltou ao normal visualmente, o que não significa que voltaram ao normal funcionalmente.

Todas as vezes em que me lesionei, foram utilizando esse par de tênis.
Depois de muito quebrar a cabeça, percebi que, usando-os dessa forma, após um pequeno trecho de corrida, quando o amortecimento já ficava no limite do desgaste, eu estava utilizando um tênis que acentuava a minha pisada supinada.

Agora, façam o seguinte teste:

Tentem correr qualquer distância forçando seus pés para pisar supinadamente e vejam onde suas pernas serão afetadas.
Justamente na região das minhas lesões. Nos isquiotibiais.

As demais lesões são (foram) em decorrência de continuar treinando (ou tentando) da mesma forma e com o mesmo equipamento.

Descobrindo a pisada real
Ainda, descobri que minha pisada nem é “supinada”.
É, digamos, “cruzada”. O que é mais comum do que imaginava.
Ela começa com a parte externa do calcanhar, mas termina com a parte interna da frente do pé.
Pode-se ver isso pelo desgaste na sola dos tênis.
Provavelmente, os tênis mais indicados para esse tipo de pisada sejam os neutros.

Quero deixar claro que não estou fazendo em nenhum momento uma crítica a esse tipo de calçado, seja ele para pisada supinada, pronada ou neutra.

Acho importante registrar a importância da utilização do calçado adequado, pelo tempo adequado, levando em consideração a vida útil desse calçado.

De minha parte, muito contente por ter, provavelmente, descoberto a causa das lesões, embora ainda no período de curá-las.

Voltando aos tão queridos tênis neutros e de solados baixos.

3AV
Marco Cyrino

6 comentários:

  1. Parabéns pelo post Marcão, vc sempre escrevendo muito bem, conseguiu colocar bem a mensagem que estava querendo passar!! Um abraço
    Atef Yassin

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Atef.
      Posso escrever razoavelmente bem, mas devo ser o melhor melhor do mundo e fazer besteiras...kkk

      Excluir
  2. Uma vez descoberta o tipo de pisada e o calçado ideal para os seus treinamentos, meu amigo, é chegada a hora de uma avaliação funcional mais profunda afim de, através do ajuste dos desiquilíbrios entre as estruturas dos MMII, pela musculação principalmente, você conseguir uma sobrecarga menor de esforço sobre as mesmas.
    Pense nisso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, Silvio.
      Mas pior é quando você acha que descobriu o tipo de pisada e depois de um longo tempo percebe que uma coisa é a pisada "parada" (no meu caso supinada) e outra coisa bem diferente é a pisada em movimento (que é o que realmente interessa) que no meu caso é cruzada, portanto adequada ao calçado neutro.
      Quanto à correção de desequilíbrios através da musculação e outros meios (propriocepção, etc) você está certo e é tudo que venho procurando fazer. Valeu pela dica.

      Excluir
  3. Bom, eu como trabalhei por muito tempo no comércio, aconselhava aos meus clientes em ir 1o ao ortopedista para saber o tipo de pisada, pois nessas lojas, infelizmente, somos obrigados a "empurrar" os mais caros, e nem sempre era o tênis correto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Palavra de quem conhece a prática de venda.
      Parabéns por você aconselhar seus clientes ao invés de priorizar a venda do produto mais caro.

      Excluir