domingo, 27 de novembro de 2011

O assunto ainda é Surf (texto, imagens, vídeos)

Fiquei com a terrível sensação de não ter dado o devido valor ao adjetivo utilizado para definir Teahupoo.
E foi isto mesmo.
Tratei por "a onda mais cascuda" do circuito mundial.
Putz! É muito, mas muuuito mais do que isto!

Pelas suas características únicas, para surfar nas ondas de Teahupoo, o surfista precisa ter absurda coragem, técnica,  perícia, e uma boa dose de loucura.

Como e por quê...
Para que seja possível entender um pouco do que é Teahupoo...
Pronuncia-se "tchôpo", como uma onomatopéia para o som de uma grande onda quebrando...

Há uma bancada de corais extremamente rasa, que se torna mais rasa ainda, à medida que a série de ondas entra em sua direção.

Uma ondulação oceânica que venha em sua direção com apenas 1 metro de altura (ou menos), se transforma numa parede com uns 3 metros de face, devido à variação de profundidade.

Quem é do surf (e muitos que não são) sabe que uma onda quebra quando atinge um determinado tamanho em relação à profundidade.

Por este motivo, em “beach breaks” (bancadas de areia) as ondas são inconstantes, mas sempre quebram onde o local é mais raso em relação aos demais, adjacentes.

Teahupoo tem a peculiaridade de ser absurdamente rasa em relação à profundidade de poucos metros à sua frente.

Cada ondulação oceânica que vem de encontro a essa bancada, ao encontrá-la, suga o pouco de água que existe nela.

Assim, a ondulação com pouco tamanho cresce, e é como se todo o oceano viesse por cima dessa bancada.
Imaginem uma tsunami avançando para terra, mas com o agravante de a água à sua frente estar sendo tragada por baixo dela.
Pois é assim mesmo...

O fenômeno
Outra característica marcante, ao redor dessa bancada rasa, a profundidade continua sendo muito grande.

Isto faz com que simplesmente a onda acabe por ali, e os barcos de apoio, jet skis, surfistas, fotógrafos e demais observadores estejam a salvo da onda nesse local.

Como é uma onda que só se pode surfar para a esquerda (ponto de vista de quem rema para entrar na onda), todos ficam no "canal" também à esquerda dessa bancada (ponto de vista de quem olha para a praia... Praia???)

Resumindo, a junção destas características gera um notável fenômeno de desnível oceânico entre a região do canal e a região da bancada, onde quebram as ondas.


Estas imagens alucinantes permitem avaliar o que é Teahupoo.





[Fotos e desenho esquemático obtidos da Internet - autores desconhecidos ou não creditados pelos incontáveis websites de origem.]


Vítimas...
Infelizmente, Teahupoo já fez algumas vítimas fatais, inclusive surfistas profissionais.
Não quero falar sobre isso agora...

Fez também algumas vítimas que sobreviveram para contar a história.

Entre elas, Neco Padaratz, irmão mais novo de Teco Padaratz que, no auge de sua carreira, após já ter vencido algumas etapas do WCT, e com totais condições para ser campeão mundial, levou um caldo nessa onda, durante a etapa do circuito, permanecendo por alguns minutos preso embaixo dágua, pela sua cordinha enroscada nas cabeças de corais

Foi salvo, mas passou a ter verdadeiro trauma dessa onda.
Depois disso passou anos sem ter coragem de encarar novamente Teahupoo.

Um aparte sobre abutres...
Pra variar, assim como no Triathlon, existem os abutres esperando uma escorregada de quem tem talento.
Quando isso acontece, não perdem a oportunidade de tripudiar.

Neco comeu o pão que o diabo amassou, com as críticas de que seria "amarelão", covarde, e daí pra baixo.

É engraçado (aliás, é trágico) como existem seres que não fazem absolutamente nada de útil na vida, mas esperam uma fatalidade atingir alguém bom em sua área, para criticá-lo.

Isto acontece em todas as atividades, mas principalmente nos esportes.

Imaginem um sujeito que nunca dropou mais de 1 metro de onda criticar o Neco por seu trauma de quase morrer afogado em Teahupoo.

Imaginem um cara que nunca correu mais que 10 km criticar um atleta que "quebrou" no Iron de Kona.
É assim que o mundo funciona.

Depois, para calar a boca dos críticos, 5 anos depois, em 2005, Neco participou novamente da etapa de Teahupoo e, em uma de suas baterias, com o mar enorme, recebeu uma nota 10 unânime.
"Quebrou geral"... e superou seus fantasmas.
Uma pesquisa no Google mostrará muitos resultados sobre isto, caso duvidem.

Voltando
Teahupoo também já fez muitos heróis.
Kelly Slater, Bruno Santos, entre outros.
Mas, talvez o momento mais casca-grossa deva ter sido este, protagonizado por Laird Hamilton surfando uma ondulação enorme de town-in.

Não há muito que falar a respeito.
As imagens valem por quaisquer palavras.

Laird Hamilton takes on Teahupoo 



Vídeo de 27/08/2011.
"Código vermelho", competição suspensa devido às condições de alto risco do mar.
Sinal verde para os loucos que quiseram se arriscar.


Enjoy!
Marco Cyrino

2 comentários:

  1. Em 2005, Kelly Slater teve a melhor temporada da sua carreira. Apesar disso, aquele ano não começou bem para ele. Com derrotas e resultados fracos nas primeiras provas, Slater chegou para o evento de Teahupoo, no Taiti, sem o favoritismo que geralmente o cerca considerando a disputa pelo título do WCT.

    Durante uma bateria duríssima contra o havaiano Bruce Irons, Slater estava perdendo por combinação (precisando de uma combinação de notas para superar o adversário), o que significa basicamente estar perdendo de goleada no futebol. “Eu achei que estava tudo perdido, quando decidI deixar toda aquela preocupação de lado. Decide que eu deveria parar de me preocupar com a competição, com as notas, com tudo aquilo, e como essa preocupação estava afetando os meus resultados”, conta Slater. O que aconteceu em seguida foi considerado por muitos como o momento mais antológico do surf competição. Vale o registro...

    ResponderExcluir
  2. Ricardo,
    Bom ter alguém acompanhando que também tenha interesse e conhecimento de Surf.
    Ótimo comentário.
    Aloha

    ResponderExcluir