quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Supressão imunológica pós-treinos e pós-competições

Nutrição versus imunossupressão induzida pelo exercício

Este artigo complementa os nossos posts Don't stop! e Série - Floripa a Pirassununga - Introdução.
O tema abrange pontos de consenso e pontos ainda polêmicos, não confirmados através de pesquisa cientifica.
Compilamos e consolidamos as informações e tivemos o cuidado de destacar em vermelho as ressalvas dos artigos e estudos originais.
Esperamos estar contribuindo com informações úteis aos Triatlhetas e demais esportistas.

Situação
Um Triathleta acamado, com resfriado, pode parecer uma idéia contraditória, mas, na verdade, o treinamento de endurance (resistência) e as competições de Triathlon podem prejudicar temporariamente a função imunológica, resultando em vulnerabilidade a infecções das vias aéreas superiores (IVAS).


Constatações
Pesquisas abrangendo três grandes eventos de endurance constataram que:

·         Um terço dos 150 ultra-maratonistas competindo em uma prova na África do Sul, desenvolveu infecções do trato respiratório superior, no período de 2 semanas após a competição.

·         Aproximadamente 13% dos mais de 1800 competidores na Maratona de Los Angeles, contraíram resfriado, no período de 1 semana após a competição.

·         Aproximadamente 25% dos atletas participantes da Corrida de Endurance dos Estados do Oeste (EUA), apresentaram sintomas de infecção de trato respiratório superior, no período de 2 semanas após a prova.

Hipóteses aceitas
Qual o motivo dos surtos de resfriado após estes eventos de endurance?

Acredita-se que o stress físico do exercício de endurance aumente as concentrações dos hormônios de stress circulantes, tais como a adrenalina e o cortisol.

Estes hormônios ajudam a atender às demandas físicas imediatas das competições de Triathlon, mas o preço disto pode ser uma supressão temporária do sistema imunológico.

Tal supressão, frequentemente, é apenas o suficiente para permitir que se instale um resfriado afetando as vias aéreas superiores ou pulmonares.

Então, como obter os benefícios do seu treinamento e competir num evento de Ironman, sem deprimir o seu sistema imunológico?

Nutrição pode ser a resposta.
Uma possível estratégia-chave para evitar os efeitos imunossupressores dos exercícios pesados, consiste em assegurar-se de que a dieta proporcione tudo o que você precisa, em termos de nutrientes e outros fatores dietéticos que desempenham papéis importantes no suporte à função imunológica.

Então, analisemos esses fatores dietéticos importantes no suporte à função imunológica...

Macronutrientes

Proteínas
Proteínas na dieta são importantes, porque muitos elementos do sistema imunológico são construídos a partir de proteínas.

Calorias
Calorias também são importantes.
Um Triathleta treina pesado, por longas horas, o que pode tornar difícil suprir as suas necessidades diárias de calorias.

Além disto, para tentar emagrecer, talvez esteja incrementando seus treinos ao mesmo tempo em que corta calorias.

Infelizmente, este parece ser um caminho rápido para um resfriado, pois existe evidência científica de que, em atletas de endurance, mesmo algumas semanas de dieta para perder peso podem ser suficientes para prejudicar o funcionamento das células imunológicas.

Portanto, para garantir um sistema imunológico forte, é importante evitar as dietas com cortes abruptos de calorias, durante os períodos de treinamento pesado e de competições árduas.

Carboidratos
A ingestão de carboidratos também parece desempenhar um papel importante na função imunológica.

Estudos demonstraram que atletas com dietas pobres em carboidratos, e que se dedicam a exercícios prolongados extenuantes, apresentam aumentos acentuados dos níveis circulantes de hormônios de stress.

À medida que aumentam os níveis de hormônios de stress, diminuem a quantidade e o nível de atividade das células-chave envolvidas na função imunológica.

Entretanto, o consumo de carboidratos durante o exercício reduz esse aumento nos níveis de hormônios de stress, o que ajuda a compensar o efeito supressor desses hormônios sobre a função imunológica.

Embora o significado clínico disto ainda não tenha sido determinado, recomenda-se o consumo de carboidratos (30 a 60 g/h) sob a forma de bebidas, durante o exercício prolongado.

Isto resultará em menos resfriados?
Não se sabe ao certo.

Mas, considerando-se já estar demonstrado que o consumo de carboidratos, durante o exercício, aumenta a resistência, podemos encarar como um bônus este seu potencial auxílio ao sistema imunológico.

Gorduras
Sabe-se relativamente pouco sobre a contribuição potencial da ingestão de ácidos graxos, na mediação das alterações do sistema imunológico induzidas por exercícios. 

Dois grupos de ácidos graxos poli-insaturados, conhecidos por ômega-6 e ômega-3, são essenciais para o corpo e precisam ser obtidos através da dieta, pois não são sintetizados pelo organismo.

Entretanto, são necessárias pesquisas adicionais para se determinar precisamente como a alteração da ingestão de ácidos graxos afeta a função imunológica de um atleta, durante os períodos de exercícios pesados (treinos ou competições).  

Ingestão de líquidos durante os exercícios
O consumo de bebidas durante os exercícios não apenas  ajuda a prevenir a desidratação (que está associada ao aumento da resposta do hormônio de stress), mas também ajuda a manter o fluxo de saliva durante o exercício.

A saliva contém diversas proteínas com propriedades antimicrobianas.
Porém, a secreção de saliva normalmente diminui durante o exercício.
A ingestão regular de líquidos durante o exercício está associada à redução deste efeito

Um estudo recente confirmou que (em comparação com um regime de baixa ingestão de líquidos) o consumo regular de bebidas com sabor de limão, e contendo carboidratos, ajuda a manter o fluxo de saliva durante o exercício prolongado.


Micronutrientes

Vitaminas e minerais
Vitaminas e minerais essenciais são necessários para suportar a rápida replicação das células do sistema imunológico, as quais são fundamentais para combater os agentes causadores de resfriados outras infecções.

Outros nutrientes
Não existe evidência científica forte de que qualquer erva ou nutriente específico possa compensar os efeitos do exercício extenuante sobre a função imunológica (veja, abaixo, Imunoestimulantes dietéticos).

Realmente poucos estudos avaliaram o efeito desses fatores dietéticos sobre a incidência de infecções do trato respiratório.

Antioxidantes - Vitaminas C e E
Ainda é discutível se os suplementos antioxidantes são necessários ou desejáveis para os atletas.

Vitamina C
Existem evidências conflitantes dos efeitos de doses elevadas de vitamina C na redução da incidência de infecções das vias aéreas superiores pós-exercício, e ainda não se demonstrou que esta prática impeça o comprometimento imunológico induzido pelo exercício.

Em dois estudos diferentes, ultra-maratonistas que ingeriram diariamente 500 a 600mg de vitamina C, durante algumas semanas antes, e durante alguns dias após uma ultra-maratona, apresentaram menores taxas de infecções do trato respiratório, (em comparação com aqueles que tomam um placebo).

Infelizmente, outros pesquisadores não foram capazes de reproduzir estas constatações, de modo que ainda não existe comprovação científica definitiva.

De qualquer modo, durante algumas semanas antes, e durante uma semana após uma competição de Triathlon, pode ser uma boa medida ingerir diariamente 500mg de um suplemento de vitamina C, ou preferencialmente aumentar a ingestão de vitamina C proveniente de frutas e sucos de frutas.

Vitamina E
A elevação na ingestão de vitamina E, até cerca de 200mg/dia, parece ser eficaz na redução da incidência de IVAS na população em geral, e vários estudos recentes indicam que várias semanas de suplementação de vitaminas antioxidantes (C e E) podem atenuar as respostas de hormônios de stress e das citocinas*, decorrentes do exercício prolongado.

*[Proteínas que regulam as funções celulares, inclusive a produção de células do sistema imunológico.]

Megadoses de vitaminas e minerais
O consumo rotineiro de megadoses de vitaminas e minerais não é aconselhável.
A ingestão em excesso de alguns micronutrientes (por exemplo, ferro, zinco, vitamina A) pode prejudicar a função imunológica.

Multivitamínicos
A ingestão adequada de ferro, zinco e vitaminas A, E, B6, e B12 é especialmente importante para a manutenção da função imunológica.

Pode-se considerar razoável tomar um suplemento multivitamínico / mineral balanceado, do tipo "um ao dia", para ajudar a garantir que você esteja constantemente recebendo as quantidades adequadas de micronutrientes necessários ao sistema imunológico.

Entretanto, preferencialmente, uma dieta mantida continuamente rica e balanceada irá garantir o mesmo (ou melhor) resultado.


Imunoestimulantes dietéticos

Probióticos, glutamina etc.
Existem evidências recentes de que outros fatores dietéticos, como probióticos, glutamina, whey protein (proteína de soro de leite), aminoácidos de cadeia ramificada, beta-caroteno, Echinacea purpurea, apresentam influência no suporte à função imunológica saudável.

Mas são necessárias pesquisas adicionais para determinar se estes tipos de fatores dietéticos auxiliam especificamente na supressão temporária da função imunológica que ocorre em atletas de endurance.

Portanto, as evidências atuais são limitadas em relação à eficácia de tais suplementos para evitar ou tratar infecções comuns, particularmente em atletas, e não são suficientes para recomendar tais suplementos.


Conclusões
As deficiências dietéticas de energia, proteínas, e micronutrientes específicos estão associadas à função imunológica deprimida e ao aumento da vulnerabilidade à infecção.

Atletas de endurance sofrem uma supressão imunológica, nos períodos imediatamente posteriores a treinos fortes e competições.

Conclui-se que a nutrição adequada poderá, de alguma maneira, limitar a imunodepressão induzida pelo exercício.

Mas, isto continua sendo uma área fértil para novas pesquisas.

Referências
Websites especializados

Can nutrition limit exercise-induced immunodepression?
Michael Gleeson, PhD M. - Nutrition Reviews_, Vol. 64, No. 3, 119-131

Staying Healthy While Training and Competing
Christopher D. Jensen, PhD, MPH, RD

Tradução, compilação, consolidação.
© 2011 - 3 ATHLON NA VEIA  - Editoria

Marco Cyrino

3 comentários:

  1. Parabéns Marcão...ótima matéria...
    Em resumo. final de treino significa repouso e reposição nutricional...o famoso treina, come e dorme...
    Abraço

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  2. Temos em nosso Fórum um tópico relacionado, a ser desenvolvido: alimentação viva, abordando aspectos nutricionais (simplíssimos) capazes de reforçar o sistema imunológico.

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